EMPREGO CRESCE MAIS NO SETOR PÚBLICO
Direitos e Deveres

EMPREGO CRESCE MAIS NO SETOR PÚBLICO




Autor(es): Claudia Safatle, Chico Santos e Rafael Rosas | De Brasília e do Rio
Valor Econômico - 22/10/2010


Os dados mais recentes do mercado de trabalho mostram que o setor privado - especialmente os segmentos produtivos - perdeu fôlego na oferta de emprego e no aumento dos rendimentos. Depois do forte primeiro trimestre, a participação privada está mais moderada e o setor público ganhou importância. Entre março e setembro foram criados 534 mil novos empregos nas seis principais regiões metropolitanas do país, situação que fez a taxa de desemprego bater recorde de baixa e cair a 6,2% em setembro. Dessas vagas, 55% foram abertas pela administração pública, nas três esferas de governo.

Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de setembro, divulgados ontem pelo IBGE, comparados aos resultados da PME de março, mostram que a administração pública criou 291 mil vagas, enquanto a indústria foi responsável pela abertura de 137 mil novos postos de trabalho; os serviços, 43 mil; e o comércio, 7 mil. Curiosamente, o setor da construção civil, um dos mais aquecidos do país e grande empregador de mão de obra de menor qualificação, fechou 67 mil vagas desde março. Ainda com base nos dados de setembro sobre março, a massa salarial teve crescimento de 7,2%, puxada pelo aumento de 15,6% na administração pública.

Claudia Safatle

Governos geram mais emprego que setor privado

Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de setembro, divulgados ontem pelo IBGE, comparados aos resultados da PME de março, apontam para um fato instigante: foi a administração pública (excluídas as empresas estatais) nas três esferas de governo - federal, estadual e municipal - a responsável pelo maior número de postos de trabalho abertos no país e, também, pelo forte aumento da massa salarial.

Confrontando os dados de setembro com os de março - mês em que começou a aparecer uma mudança de tendência nas apurações da PME, a administração pública criou 291 mil vagas. A indústria foi responsável pela abertura de 137 mil novos postos de trabalho; os serviços, 43 mil; e o comércio, 7 mil.

Curiosamente, o setor da construção civil, um dos mais aquecidos do país e grande empregador de mão de obra de menor qualificação, destruiu 67 mil vagas no mês passado, em relação aos empregos gerados em março. Eram 1, 706 milhão de empregos em março e esses caíram para 1, 639 milhão em setembro, segundo a pesquisa do IBGE que abrange as seis regiões metropolitanas

Construção civil perde fôlego, segundo o IBGE

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados esta semana, corroboram com essa tendência. Ele faz uma radiografia da situação do mercado de trabalho em todo o território nacional, e não só nas regiões metropolitanas. As últimas informações do cadastro (com ajuste sazonal) já indicavam que a economia gerou menos emprego em setembro deste ano do que em setembro de 2008, mês em que eclodiu a crise financeira global. A indústria abriu 25 mil empregos novos no mês passado, menos da metade dos 57 mil postos de março; a administração pública manteve o mesmo ritmo de contratação, 82 mil; e a construção civil perdeu fôlego, caindo de 32 mil para 19 mil vagas em março e setembro, respectivamente.

É importante lembrar, também, que o governo, no fim de março, eliminou uma série de incentivos fiscais concedidos no auge da crise financeira mundial - para a compra de automóveis novos, linha branca, móveis. E logo no mês seguinte, o Comitê de Política Monetária (Copom), fez o primeiro aumento da taxa de juros Selic do pós-crise: de 8,75% para 9,5% ao ano. Depois disso, o comitê anunciou outros dois aumentos de juros : para 10,25% em junho e para 10,75% em julho, interrompendo aí o ciclo de aperto monetário.

De lá para cá, a administração pública aumentou de 15,6% para 16,6% sua participação no estoque de ocupados no país, ao mesmo tempo em que no segmento privado a desaceleração da contratação e da produção já aparece, embora ainda não de forma muito visível.

Embora o período eleitoral seja marcado por uma legislação que restringe a contratação de mão de obra pelo setor público nos três meses que antecedem o primeiro turno, muitos desses postos de trabalho já haviam sido objeto de concursos. Os concursados foram sendo chamados a assumir as vagas ao longo dos meses. Os dados do IBGE, porém, não chegam a esse nível de detalhamento - se quem entrou foi por concurso ou por outras formas - assim como não é possível identificar as esferas de governo que mais contrataram.

Ainda com base nos dados de setembro sobre a performance de março, a massa salarial teve um crescimento de 7,2%. Também nesse caso, quem mais contribuiu para sustentar o crescimento foi a administração pública, onde o aumento da massa de salários foi de 15,6%. Fora dela, o aumento foi bem mais modesto: 4,5%. Na construção civil, os salários cresceram 3,9% em setembro sobre março; no setor de serviços, 2,8%; e no comércio, apenas 1,5%.

Esses indicadores sugerem que o crescimento econômico e, portanto, a oferta de emprego e aumento dos rendimentos estão ocorrendo, no setor privado, de forma bem mais moderada do que parece à primeira vista.

Se essa for a avaliação correta da conjuntura, certo está o Banco Central, que vem, desde junho, alertando para uma queda abrupta do nível de atividade econômica desde abril, que já teria levado o PIB para um crescimento abaixo do seu potencial. Tudo isso confirmado, seria mínimo o risco de descasamento entre oferta e demanda e, portanto, de um repique inflacionário à vista.

De qualquer forma, os dados da pesquisa de emprego do IBGE merecem uma análise acurada dos especialistas em mercado de trabalho e dos analistas econômicos, pois fornecem indícios de que a política fiscal é que está produzindo empregos e renda em ritmo muito além do que o motor do crescimento - o setor privado - consegue.






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