Visão do Correio
Os transtornos observados no concurso da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não constituem fato isolado. Somam-se às confusões registradas em boa parte dos certames que visam à seleção de servidores para a administração pública. O primarismo das falhas é tal que permite inferir tratar-se de exercício de amadorismo em setor que exige alto grau de profissionalismo.
Aplicadas no domingo, as provas do órgão regulador destinavam-se a 125 mil inscritos. Quase metade dos candidatos ? cerca de 44% ? sofreram prejuízos no legítimo direito de ser avaliados em igualdade de condições com os demais. Além do Distrito Federal, três unidades da Federação registraram irregularidade na aplicação dos testes ? Pernambuco, Alagoas e Rio de Janeiro.
Nada menos de 55 mil pessoas tiveram o direito cassado. A violência não se deveu a nenhum fenômeno da natureza, impossível de prever ou conter. Deveu-se, isso sim, à falta de seriedade no planejamento do certame. Só a imprevidência e a cegueira em relação à seriedade do processo explicam atraso na aplicação das provas, violação do lacre dos envelopes, número insuficiente de cadernos, carência de informação, desrespeito às regras do edital, falta de preparo para atendimento de grávidas e pessoas com necessidades especiais.
Ao se darem conta das trapalhadas, candidatos tumultuaram corredores na tentativa desesperada de encontrar resposta para a inaceitável reprise da novela cujo enredo é conhecido, criticado e temido. Muitos registraram queixa na polícia. O Instituto Cetro, responsável pelo concurso, apresentou monótono discurso repetido por todas as instituições depois do registro de problemas: apuração das irregularidades e anúncio posterior das providências a serem tomadas.
Esquecem-se de pormenor importante. Por trás dos números existe gente. Na luta por ingressar nos quadros do Estado pela porta da frente, milhares de brasileiros investem tempo, recursos e saúde no esforço de se preparar para a disputa. Muitos se deslocam de uma unidade da Federação para outra. São obrigados a pagar, além do transporte, hospedagem e alimentação. Há, vale lembrar, os que perdem dias de trabalho no ir e vir.
É inaceitável a convivência com problemas que se sucedem a cada concurso público que se realiza no país. Não basta reaplicar provas. Os responsáveis precisam, além de arcar com os danos materiais, responder por danos morais. Concurso público é importante demais para ser deixado nas mãos de aventureiros.
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