Em outubro, o então diretor-geral, Agaciel Maia, reuniu discretamente os chefes de gabinete para explicar a liberação das horas extras. Mas jamais tornou a medida pública. Deixou o documento na própria gaveta.
O ato contém os nomes dos integrantes da Mesa Diretora da época. Presidente do Senado na ocasião, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) diz que não se lembra disso. "Sinceramente, não me recordo."
Também por ato secreto, o Senado permitiu, a partir de julho de 2008, que servidores viajassem para fora do País a serviço e recebessem diárias além dos dias estipulados para o trabalho determinado.
Apadrinhado pelo presidente José Sarney (PMDB-AP) e pelo ex-presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-diretor-geral Agaciel Maia administrava como uma empresa particular, desde 1995, um orçamento anual de R$ 2,7 bilhões e 10 mil funcionários. É o que tem revelado o baú secreto que vem sendo aberto desde março passado, quando ele deixou o cargo após a suspeita de que teria ocultado a propriedade de uma casa em Brasília.
Com o aval discreto dos senadores, Agaciel multiplicou diretorias, aumentou o número de empresas terceirizadas e espalhou benesses. Era mais poderoso do que muitos senadores.
A prática dos atos secretos foi usada também em proveito próprio. Uma decisão jamais publicada estendeu ao secretário-geral da Mesa e ao diretor-geral a assistência médica vitalícia oferecida a senadores e ex-senadores. A existência desse ato, assinado em 2000, é comentada desde então nos corredores do Senado. O documento, porém, nunca foi divulgado.
O Estado teve acesso ao texto, assinado em 12 de dezembro daquele ano pelo então presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), morto em 2007. Em seis linhas, a Mesa Diretora da época inclui os dois cargos administrativos na resolução que descrevia o privilégio aos senadores.
Em maio passado, a Primeira Secretaria regulamentou o uso de horas extras pelos servidores. Na verdade, apenas oficializou o que o ato secreto de outubro já dizia: todos os servidores efetivos lotados em gabinete de senador estavam liberados para trabalhar fora de hora e receber por isso, enquanto os de confiança teriam um limite de um terço da cota de cada gabinete.
Antes de outubro, havia uma regra limitando a nove por gabinete - entre funcionários concursados e de confiança - o número dos que poderiam fazer horas extras.