Celso Nascimento - Celso NascimentoGazeta do Povo - 09/02/2010
Batido o martelo ontem à tarde: o ministro Paulo Bernardo recebeu do presidente Lula o apelo que, por fidelidade ao presidente, não poderia recusar: vai continuar no Ministério do Planejamento até o fim do governo. Especulações de que substituiria Dilma Rousseff na Casa Civil foram desfeitas, assim como abandonada a hipótese de que se demitiria do cargo para candidatar-se a deputado federal pelo PT.
O próprio ministro, que antecipou esta notícia ontem à coluna, reproduz a explicação que Lula lhe deu para pedir-lhe a permanência: ?Em time que está ganhando não se mexe?, foram as palavras textuais e iniciais do presidente a Bernardo. Mais do que isso, o ?fico? do ministro quer simbolizar parte da estratégia do governo para manter a opinião pública a seu favor neste ano de eleições: Lula quer sinalizar para a opinião pública que não haverá mudanças na política econômica do governo, conduzida em grande parte por Paulo Bernardo e que é um dos motivos da popularidade do governo ? moeda estável combinada com crescimento, manutenção de investimentos etc.
No fundo, o presidente Lula, não mexendo no Planejamento e nem em outras áreas da equipe econômica, pretende sinalizar que continua em vigor a ?Carta ao Povo Brasileiro? ? documento pelo qual, na eleição de 2002, conseguiu exorcizar os temores de que, vindo da esquerda, estaria disposto a mudar radicalmente a política econômica que vinha desde o governo FHC. A carta teve papel fundamental na derrota que Lula impôs a José Serra naquela eleição e que, cumprida quase integralmente, o ajudou a vencer também Geraldo Alckmin (PSDB) no pleito seguinte, em 2006.
Qualquer mudança mais profunda na equipe econômica poderia causar abalos na confiança no governo e provocar abalos na candidatura de Dilma Rousseff em segmentos sociais, especialmente o empresariado, que teme a possilidade de a ministra, se vencer a eleição, promover mudanças que contradigam os compromissos da Carta ao Povo Brasileiro.