O partido no poder
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O partido no poder




Blog do Noblat     -     25/12/2011






Merval Pereira, O Globo

Um grande diferencial entre os governos Fernando Henrique e Lula, detectado pelo estudo da cientista política Maria Celina D?Araujo, professora do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, está relacionado ao tema partidário.

Com base em análise da composição dos ocupantes de cargos de Direção e As­sessoramento Superiores (DAS) níveis 5 e 6, e de Natureza Especial (NES) ela constatou que o índice de partidarização dobrou entre um e outro governo: 6,5% de todos os ocupantes dos cargos no go­verno FHC eram filiados a algum partido político, número que subiu para 12,6% no go­verno Lula.

?Os percentuais em si não seriam tão importantes, não fora o fato de que a concentração de filiados ao partido do governo sobe conforme os níveis de DAS são mais altos?, ressalta Maria Celina.

Neste caso, a diferença entre os dois governos é significativa: nos DAS 6, sobe de 17,1% no governo FHC para 38% no governo Lula. De imediato chama a atenção a grande concentração de filiados ao PT no governo Lula, cerca de 40% de todos os integrantes dos cargos de DAS filiados a algum partido.

Durante o governo Fernando Henrique, o partido do go­verno, o PSDB, acumulou 20% desses cargos, mesma proporção de seu principal aliado, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB.

De maneira explícita nota-se, ressalta o estudo, uma distribuição mais equilibrada entre os partidos da base no governo FHC.

Neste go­verno, o PT na oposição teve uma fatia de cargos de confiança semelhante à de partidos da base, como o DEM e o PP.

O dado acima confirma nossa hipótese, diz Maria Celina, de que no governo do PSDB não houve uma política de exclusão partidária, pelo menos entre os partidos eleitoralmente mais expres­sivos naquela ocasião.

Contrariamente, no governo Lula, a concentração de filiados ao PT foi alta entre as nomeações para os cargos de dirigentes públicos ou para o Ministério.

Esta concentração de nomeações em filiados ao partido do governo fica mais explícita quando se toma os ocupantes dos níveis mais elevados de DAS, de 4 a 6, nos dois gover­nos.

A concentração de filiados ao PSDB no governo Fernando Henrique está um pouco abaixo de 40% enquanto a dos filiados ao PT no governo Lula chega a 60%.

?Ou seja, nos níveis mais altos, a partidarização do governo vai ficando maior e as diferenças entre os dois governos vão se acentuando?.

Agrupando os níveis 5 e 6 dos DAS e os NES, objeto de análise mais apurada em termos de perfis sociopolíticos, Maria Celina diz que os dados mostram que 11% deles no governo Fernando Henrique e 24% no governo Lula eram filiados a partidos políticos.

Desses filiados a partido, no governo Fer­nando Henrique, 42% eram filiados ao PSDB e, no governo Lula, 77% eram filiados ao PT.

Para Maria Celina, ?o Ministério é um espaço privilegiado para aferir os compromissos partidários do presidente no presidencialismo de coalizão?.

A sintonia entre o número de cadeiras obtidas por um partido no Congresso e o percentual de pas­tas ocupadas no Ministério, que prevalecia desde a República de 1946, foi quebrada no governo Lula, destaca Maria Celina, ?embora a academia brasileira não tenha se dedicado devidamente ao tema?.

A concentração de pastas em mãos de petistas chegou a 50% no governo Lula, embora o PT tivesse em torno de 17% das cadeiras na Câmara dos Deputados e reunisse 29% das cadeiras da coalizão governamental.

O estudo da cientista política mostra, no entanto, que a tese da coalizão em sua versão clássica aplica-se ao governo FHC ?quando se vê um equilíbrio na distribuição das pastas entre os partidos aliados, havendo até a participação de um petista histórico, Francisco Weffort, amigo pessoal do presidente?.

Da mesma forma, é sintomática, ressalta a professora da PUC, a maior participação de pessoas sem filiação partidária no governo Fernando Henrique.

A grande concentração de cargos em mãos do partido do governo é uma caracterís­tica do governo Lula da Silva e este fenômeno ainda não foi analisado com rigor.

Na prática, significou a ruptura de um padrão de compromisso no plano ministerial o que não impediu, surpreendentemente, a estabilidade do governo ou a governabilidade, termos recorrentemente usados para justificar a necessidade de distri­buição de cargos em função dos votos recebidos para cada agremiação da base aliada ao governo.

Esta é a principal inovação do governo Lula. O PT concentrou cargos e posições e entregou algumas áreas da administração pública a aliados como PMDB, PR e PTB num patamar que não os satisfez levando à grande pressão que se observou quando da formação do governo Dilma.

Segundo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em en­trevista à autora, o PSDB não se caracteriza como um ?partido demandante?, ou como um partido de militância, o que permitiu ao seu governo ter mais margem de ação para empreender uma administração cooperativa com os demais partidos.

Assim, a maior concen­tração de petistas no governo de Lula da Silva em comparação à participação de tucanos no governo Fernando Henrique derivaria desse aspecto militante e mobilizador do PT, que historicamente foi bem-sucedido na aproximação com os movimentos sociais e com os servidores públicos.

Governos partidários são parte das regras da democracia moderna e da social­-democracia. O que é novo no caso do PT foi ter rompido com a lógica da conciliação e da partilha quando se trata de ocupar os mais altos cargos do Executivo.

Esta concentra­ção, associada a sua aproximação com movimentos sociais e com sindicatos, despertou teses sobre o aparelhamento do Estado e sobre a cooptação da sociedade civil pelo Estado.






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