Direitos e Deveres

Um desabafo sobre a cultura terceiro-mundista brasileira

Que não me levem a mal os ultra-nacionalistas... ou melhor, podem levar a mal, se quiserem... mas vou dizer: o Brasil está fadado a ser terceiro-mundo - essa expressão está fora de moda, eu sei, mas todos ainda a entendem. Pode ser até que o Brasil se torne mais rico, se a maré econômica ajudar, mas isso aqui nunca será um País líder em nada. Assim como essa classezinha emergente que anda de Hilux mas joga seu lixo pela janela, assim será o Brasil.

Claro que há INDIVÍDUOS líderes aqui no Brasil. Isso sim, sem dúvida. Mas na condição de País, de povo, de nação... esquece! Todos os casos de sucesso vindos daqui são histórias de pessoas (indivíduos) que venceram APESAR DO BRASIL, não porque houve algum tipo de apoio sistêmico.

Por que tanto descrédito??? Por tudo. E também por nada... Porque olho para os lados e não vejo solução...

Para começar, a corrupção aqui é endêmica, é genética. Meu tio me disse quando eu era adolescente e eu nunca esqueci - o brasileiro (como regra, obviamente; estou falando de comportamento médio, não de indivíduos específicos...) não é contra a corrupção; ele é contra não participar dela. O mesmo Zé Ninguém que aponta o dedo para a televisão, ao ver o Jornal Nacional, e xinga o político corrupto, essa mesma pessoa será a primeira a parar na vaga reservada para deficiente, a fazer um retorno proibido, a não devolver o troco que recebeu a mais, a não dar descarga no toalete público... Enfim, todos estão prontos para tirar vantagem particular em detrimento da coletividade, ou seja, para serem corruptos.

Costumamos ler nos livros de xadrez que é melhor jogar com uma estratégia ruim do que sem estratégia nenhuma. Pois bem, o Brasil vive sem estratégia nenhuma. Nossa chamada "classe dominante" é um lixo. Não há projeto para construir uma nação no Brasil. O único projeto é este: quem tem a vez, vai explorar ao máximo o "lucro Brasil". Ponto. Final.

O povo... (que povo? Não existe "povo brasileiro", no sentido de que não existe identidade entre as diversas gentes que se abrigam em nossas fronteiras. Essa história de "Brasil, um país plural" é slogan de marqueteiro político para criar um senso de identidade que não existe. A identidade pela falta de identidade. Acho lindo...) ...Mas, continuando: o povo brasileiro não tem história. Não tem raiz. Para usar um exemplo besta, repare que, no mundo inteiro, os jogadores de futebol têm em suas camisas o nome de família (ou seja, são conhecidos por suas origens). E no Brasil? É Cafú, Pelé, Zico, Pato, Ganso etc.

Ainda no aspecto história, me choca perceber como a memória brasileira é tratada como esgoto. Por exemplo, eu cresci brincando num parque que se chamava Rogério Pithon Farias. Hoje, meu filho brinca no mesmo parque, só que agora se chama Sarah Kubtscheck. Possivelmente, quando meu neto lá brincar, pode ser que ele tenha novamente mudado de nome, porque algum político precisava puxar o saco de alguém, ou porque será melhor para os negócios, ou qualquer motivo dessa índole terceiro-mundista.

Mesma coisa: o Estádio Mané Garrincha está sendo reformado e passará a se chamar Estádio Nacional. Por quê? Por nada. Porque o Brasil é um País de idiotas, governado por oportunistas também idiotas que não entendem o valor da história, da memória, do passado na construção de uma nação. Por isso. (Perguntar não ofende: será que alguém imagina o museu do Louvre sendo reformado e algum francês sugerir "ah, vamos mudar o nome do museu..."? Será que algum italiano já pensou "ah, vamos mudar o nome do Coliseu..."? Nunca, nunquinha. Por quê? Porque são povos que entendem o valor da história. Podem estar na pior economicamente, no atual momento de crise. Mas eles têm algo que o Brasil nunca terá - senso de identidade, senso de nação, senso de pertencimento a um projeto coletivo. Isso muda as coisas...)

Neste País, o povo é analfabeto e é governado por uma classe dominante de analfabetos. A educação aqui vale a mesma coisa que um absorvente usado. E sempre que digo isso, enfatizo: não é o salário do professor a maior prova de que a educação não vale nada. Isso é só a pontiiiinha do iceberg. A grande prova de que a educação não vale nada está nas entrelinhas - é a falta de prestígio social de um professor (você é professor? ah, coitado... faz um concurso...); é a falta de respeito pelo ambiente de sala de aula (falta de respeito que vai desde o próprio aluno, com o seu entra e sai incessante, até à própria coordenação, que interrompe uma aula em andamento para dar recados banais...); é a estrutura política que organiza a educação (como pode uma merdinha de cursinho preparatório para concurso fornecer título de especialização??? Só no Brasil...).

Ah, já que falei de concurso no parêntese anterior, vou continuar aqui. Nada contra as carreiras públicas, nada contra o serviço público e nada contra o servidor público!!! Mas precisamos reconhecer que nem todos que trabalham no serviço público são servidores públicos. Uma das grandes mazelas da sociedade é o tal do concurseiro. Explico-me: nem todo aquele que presta concurso deve ser chamado de concurseiro. Quem faz concurso para acessar um cargo é candidato. Concurseiro é aquele que quer entrar no serviço público "onde der", não importa onde. Esse cara é o germe da corrupção. Ele não quer ser servidor público - ou seja, ele não quer "servir ao público". Ele quer, isso sim, é servir-se do Estado, do salário, da estabilidade etc.

Bem, chega por hoje. Até eu mesmo me canso de minhas lamúrias. Que cada um faça seu trabalho o melhor que puder. Que cada um contribua como puder... E que seja o que Deus quiser.

Amém.

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