Notícias STFSexta-feira, 08 de março de 2013Pesquisa da USP não aponta relação direta entre casos de leucemia em SP e exposição a campos eletromagnéticos
Os resultados de um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) sobre a associação entre casos de leucemia linfocítica em crianças e a exposição delas a campos eletromagnéticos foram apresentados pelo médico sanitarista e professor da USP Victor Wünsch Filho.
O professor titular do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP foi o segundo palestrante a participar do último dia de audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre campos eletromagnéticos. A pesquisa concluiu que crianças expostas a campos magnéticos em níveis iguais ou superiores a 0,3 microtesla (unidade de medida de campos eletromagnéticos) comparadas às expostas a menos de 0,1 microtesla não apresentaram aumento do risco de leucemia.
Outra conclusão da pesquisa é que ?crianças residindo dentro da distância de 200m de linhas de transmissão apresentaram discreto aumento do risco de leucemia. Entretanto, os resultados foram imprecisos e com ausência de gradiente biológico, ou seja, não se observou aumento constante do risco de acordo com a menor distância das residências em relação às linhas de transmissão?.
?Embora os resultados obtidos neste estudo sejam consistentes com os tênues riscos referidos em pesquisas internacionais, em geral, não proveem suporte para a relação causal entre exposição a campos magnéticos e leucemia em crianças residindo no Estado de São Paulo?, disse o pesquisador na audiência pública.
A pesquisa sobre a ?Exposição a campos magnéticos de 60hz e risco de leucemia linfocítica aguda em crianças no Estado de São Paulo? foi financiada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e realizada pelo Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). O resultado dos estudos foi publicado no Jornal Internacional Cancer Epidemiology.
A pesquisa da USP se baseou em estudos epidemiológicos de outros países acompanhados pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da OMS (Organização Mundial de Saúde). Tais estudos detectaram associação entre exposição residencial a altos níveis de campos magnéticos e aumento do risco de leucemias em crianças.
Segundo o pesquisador, nesses estudos, entretanto, não foi encontrada uma explicação biológica plausível para o aumento do risco de leucemia em crianças expostas a níveis mais altos de campos magnéticos. A pesquisa foi realizada exclusivamente com crianças e se restringiu aos casos de leucemia linfocítica, que representa cerca de 80% dos casos desse tipo de câncer infantil.
Metodologia
Na pesquisa da USP foram considerados dados de crianças diagnosticadas com leucemia linfocítica aguda em cinco hospitais da capital paulista e outros três de cidades no interior do Estado ? Jaú, Barretos e Ribeirão Preto. Os hospitais enviaram informações sobre os casos de leucemia infantil para a universidade. A partir daí, os pesquisadores visitaram as casas das crianças com equipamentos para medir variações de campos eletromagnéticos por 24 horas. Os equipamentos eram colocados debaixo da cama das crianças.
Na região metropolitana de São Paulo, os pesquisadores também mediram, por meio de GPS e aplicativos, a distância das residências até as torres de transmissão, considerando faixas inferiores a 100m de distância das torres e superiores a 600m das linhas de transmissão.
A pesquisa levou em consideração o chamado ?risco ajustado ou isolado? ou seja, apenas a questão da exposição infantil a campos magnéticos, independentemente de outros fatores, como idade da mãe, tabagismo e consumo de álcool por parte da mãe, contato com agrotóxicos, sexo, raça, escolaridade.
O professor e médico sanitarista explicou que em geral a população está exposta ao equivalente a um microtesla em seu dia a dia e que os estudos consideram como uma evidência limitada a associação leucemia-exposição a campos eletromagnéticos em seres humanos. Com relação aos efeitos sobre os animais, o pesquisador afirmou que os dados são insuficientes.
AR/RR